Não é necessário empreender nenhum esforço para constatar que a qualidade da educação – especialmente a pública – precisa melhorar iminentemente. Porém, há uma questão que deriva de tal constatação, e que pode exigir uma grande reflexão: quais parâmetros devem ser utilizados para aferir essa qualidade?
A forma como esse tópico é comprrendido pelos governantes é fator decisivo na maneira como são construídas e executadas as políticas públicas voltadas para a melhoria dos padrões de educação (em nível nacional, estadual e municipal). Não é aceitável que, em pleno século XXI, após todas as revisões metodológicas efetuadas por diversos estudiosos, teóricos e especialistas em educação, e após vivenciarmos um período de pandemia global, a educação permaneça fincada nos modelos aplicados desde a revolução industrial.
Ken Robinson e Lou Aronica, em seu livro Escolas Criativas: a revolução que está transformando a educação, fazem uma importante observação:
O objetivo da produção industrial é produzir versões idênticas dos mesmos produtos. Os itens que não estão de acordo são descartados ou reprocessados.
Precisamos superar, portanto, os antiquados paradigmas educacionais que, desconsiderando a particularidade de cada indivíduo, prentendem ensinar a todos de um mesmo modo, em um mesmo ritmo, esperando resultados únicos. É premente a necessidade de uma personalização do ensino, que leve em consideração as aspirações dos sujeitos, suas expectativas de aprendizagem, seu progresso e modo de aprender.
Considerando isso, mensurar a qualidade da educação a partir de instrumentos de avaliação inflexíveis, padronizados e impessoais não parece ser uma boa decisão. Testes que se utilizam exclusivamente de questões de múltipla escolha, por exemplo, podem ser práticos, já que rapidamente codificam e processam as respostas dos alunos, mas resultam apenas em informações quantificáveis, e não em qualificáveis.
Apesar de poderem contribuir em alguns aspectos na construção de um panorama da qualidade educacional, exames como o Saeb ou o PISA, aplicados em larga escala, não possuem a capacidade de avaliar a educação de uma maneira integral, afinal, ficam de fora de tais exames muitos aspectos importantes do desenvolvimento dos estudantes, como habilidades relacionadas à criatividade, à socialização e à inteligência emocional.
A qualidade da educação deve ser observada, portanto, sob uma ótica humanizadora, que enxerga o indivíduo em sua totalidade, compreendendo a importância da formação ética e cidadã, associada aos conhecimentos científicos e acadêmicos. De outra forma, correremos o risco de pautarmos as políticas públicas unicamente com o objetivo de atingir metas padronizadas e estabelecidas por agendas liberais e mercadológicas, que apenas enxergam, na educação, a função preparatória para a vida profissional.